
O cantor e compositor pernambucano Geraldo Maia acaba de lançar seu nono CD – ESTRADA. Trata-se de um disco autoral, encomendado pela revista Continente. Nele, Geraldo deixa o intérprete em ‘segundo  plano’ para dar voz e lugar ao compositor.
ESTRADA  é uma metáfora do tempo. Tempo de batalha, de busca incessante por  afirmação. É um pequeno mosaico da porção-autor de Geraldo Maia.  O disco reúne canções de dois de seus discos autorais, o Peso Leve  (2008) e o Lundum (2009) e mais 5 inéditas. As do Peso Leve foram  todas regravadas, com arranjos mais simples, minimalistas, enquanto  que as do Lundum vieram tal qual estão no disco de origem.
“Não há uma temática central nesse disco. O fio condutor são as canções em si, que falam de temas variados, como o amor, louvores, afirmações, percepções cotidianas e às vezes até uma certa crítica social. Busquei ressaltar a composição em si, a letra, a melodia, por isso o disco é bastante simples, cru eu diria, os arranjos sempre privilegiando poucos elementos sonoros, pois o intuito maior foi dar luz à própria canção, é ela quem justifica e explica o disco”, afirma Geraldo.
De todas as graças, canção que abre o CD, é uma quase “anti-oração”,  a letra burila a Ave Maria cristã, desfazendo e reconstruindo suas  súplicas – “julguemo-nos nós por nós”. 
A  seguir vem Bendito fruto, que faz uma explícita louvação aos  poetas e seu processo criativo – “bendito fruto, ávida vida e o  que mais lampeja, que seja somente a graça divina, disso que atina e  se traduz em verso”.
Broto de semear é do Lundum e fala do amor e suas singelezas. É uma  canção com forte “tempero” das mornas cabo-verdianas.
Vida sã  é a única que inverte o processo das parcerias de Geraldo Maia, que  sempre coloca melodia nas letras que recebe. Nesse caso, fez a letra e Henrique Macedo colocou a música. Aqui a crítica social se faz  presente: “Virgem Santa dessa gente usurpada, essa gente que mais  não quer, que só quer ser digna de uma vida sã”.
Que doam-se os brios! e Helioiticicando são outras duas que vieram do  Lundum. A primeira carrega também em sua letra um forte cunho de  crítica social – “e ainda se orgulham de nem sei o quê, pois  que doam-se os brios mas eu vou dizer, mudou quase nada não, quase  menos que um grão” enquanto a segunda incita: “vamos  tropicalizar a beleza, subverter o azul do céu do sertão, plantando  uma interrogação na certeza, vivendo o mundo pela lente do não”.
Estrada é a canção que dá título ao disco, parceria de Geraldo com Paulo  Marcondes. Foi gravada no Peso Leve (2008), primeiro disco autoral de  Geraldo Maia, mas aqui ganha uma versão acústica, com o violão de  Publius e o baixo acústico de Bráulio Araújo buscando ressaltar a  melodia e a contundente crueza da letra: “ainda que mais não seja,  trago uma mala vazia, em que se guarda incerteza, estrada velha e  sozinha, de rara e pouca beleza, lugar que já não se havia”.
A faixa  8, Dom, é uma canção de afirmação, afirmação no amor: “um  amor tão grande assim, só quer ser bom, quer ter o dom de ser  feliz”.
Em  seguida vem Samba, outra composição pinçada do CD Lundum.
Janeleiro é uma parceria de Geraldo Maia com Rodrigues Lima, poeta de Santa  Cruz do Capibaribe (PE) que trabalha há décadas na TV Cultura de  São Paulo. Uma letra carregada de extremo lirismo: “da janela eu  vejo a rua, os casais de namorados, as mariposas voando, os postes  iluminados, vejo os gatos barulhando, namorando nos telhados”.
Viés de uma paixão é mais um samba de Geraldo Maia,  samba esse que foi gravado pelo coquista olindense Ferrugem. Um samba  que exalta o amor em seus desencontros: “agora me pergunto, que  faço eu desse amor, meu coração vagueia, tentando amainar a dor”.
Profana e pura é uma parceria com Publius, músico que também faz parte da  banda de Geraldo (O Fio da Meada): “santo quanto mato seco pranto  sol que arde, verde como raio gama forte feito gota”.
O disco  termina com Palavra, outra canção pinçada do Peso leve, mas que  aqui ganha um ar mais acústico, em que pese a leve intervenção  eletrônica de Rogério Samico. Mas nada que sirva para embaçar a  letra: “amor que navalha o destino, cumpre seu tino, força-motriz,  palavra essa que a mim basta, e não demanda, se diz”.
ESTRADA  é dedicado a Maria Bethânia, eterna fonte inspiradora do cantor.
“Sou  devoto, desde sempre. Mas que fique claro: não há nisso aquela tal  angústia da influência de que fala Harold Bloom, algo que acaba por  sufocar, inibir o processo criativo. Bebo nessa fonte, mas sou  parcimonioso”, explica Geraldo.
  1. De todas as graças Geraldo Maia 
     2. Bendito fruto Geraldo Maia 
     3. Broto de semear Geraldo Maia
     4. Vida sã Henrique Macedo e Geraldo Maia
     5. Que doam-se os brios! Geraldo Maia
     6. Helioiticicando Geraldo Maia e Marco Polo
     7. Estrada Geraldo Maia e Paulo Marcondes
     8. Dom Geraldo Maia 
     9. Samba Geraldo Maia e Paulo Marcondes
10. Janeleiro Geraldo Maia e Rodrigues Lima 
11. Viés de uma paixão Geraldo Maia
12. Profana e pura Geraldo Maia e Publius
13. Palavra Geraldo Maia
Produzido por Geraldo Maia
Gravado no Estúdio Carranca 
      por Bruno Lins , faixas 1/4/7/8/11/12/13 em jun/2012
      por Júnior Evangelista , faixa 10 ago/2011, faixas 3/5/6/9 para CD Lundum/2009
Todas as faixas mixadas por Júnior Evangelista
Masterizado no Estúdio Carranca por Carlinhos Borges
Atendimento no estúdio: Sandro Lins
Fotografia: Glauce Oliveira
Projeto gráfico:  Karina Freitas