Maracatu zen, fado eletrônico, samba trip hop, coco de rabeca e canções em arranjos camerísticos formam “Astrolábio”, o segundo CD de Geraldo Maia. A idéia de uma conexão com infinitas possibilidades reflete bem o trabalho do artista pernambucano, que curiosamente intitulou o disco com o mesmo nome de um antigo instrumento astronômico, utilizado por navegadores para se orientarem no mar a partir da observação dos astros visíveis.
Apesar do nome, a escolha do repertório e dos arranjos dispensa astrolábios e bússolas porque toda essa diversidade sonora encontra-se coesa e expõe um fio condutor. Não há dispersão no disco, que mantém as principais características do trabalho autoral de Geraldo Maia: a revelação de novos compositores pernambucanos, a presença de clássicos da poesia recifense, como Joaquim Cardozo e Carlos Pena Filho e a interpretação de temas consagrados da MPB.
“Manha de Carnaval”, de Luís Bonfá e Antônio Maria é um exemplo. É uma das peças brasileiras mais gravadas, inclusive por jazzistas do mundo todo, mas Geraldo Maia dá sua contribuição de maneira diferente, acompanhado apenas pelo violoncelista Fabiano Menezes tocando em staccato e suave vinheta de uma orquestra de frevo em sampler. O tom camerístico também se revela em “Laser”, de José Miguel Wisnik e Ricardo Breim, realçado pelo clima levemente barroco de cordas e bandolim, com arranjo de Fernando Rangel.
Trip hop
As texturas de música eletrônica figuram no fado “Sem Vergonha”, de João Falcão e Adriana Falcão. A bela melodia é realçada pelo arranjo de DJ Dolores e a guitarra de Lúcio Maia, da banda Nação Zumbi. Mas a levada trip hop fica mais acentuada ainda em “Samba Pra Minha Alma”, de Marcelo Soares e Izabela Domingues, com arranjo do autor, junto com Igor e o baterista Pupilo, da Nação Zumbi. A percussão de Pupilo permeia inclusive boa parte das faixas, como em “O Amor É Velho”, de Tom Zé, cuja melancolia é destacada em sanfona, guitarra e sampler.
As composições de músicos pernambucanos ocupam a maior parte do repertório. Alguns já bastante conhecidos pelo público brasileiro, como Lenine e Dudu Falcão (de quem Geraldo gravou “Tudo por Acaso”) e Lula Queiroga (autor do maracatu-zen “Megazen” em parceria com Felipe Falcão). Esta canção é marcada pela participação sutil, mas inconfundível do percussionista Nana Vasconcelos. Já Antônio Nóbrega também faz participação especial, cantando e tocando rabeca em “Mestiçagem”, dele e Wilson Freire, uma divertida composição sobre a mistura étnica produzida no Brasil.
Literatura recifense
Entre os pernambucanos apresentados ao público nacional pela voz de Geraldo Maia em “Astrolábio”, estão Alex S (com “Monocultura”, que abre o disco e a ciranda “Festa da Lavadeira”) e Marcelo Soares (que além de “Samba Pra Minha Alma”, também assina “Casual’, em parceria com Paulo Marcondes).
Os poetas Carlos Pena Filho e Joaquim Cardozo, que são marcos da literatura recifense, estão presentes nas faixas “Pedro Álvares Cabral” (musicada por Carlos Mascarenhas) e “Canto Final” (com melodia de Aristides Guimarães), respectivamente.
Para Geraldo Maia, o repertório desse disco é bastante eclético, mas a um só tempo conserva uma certa unidade, que vem do seu modo de interpretar as canções, bem como da própria escolha dos músicos. “Eu queria fazer um disco mais sintonizado com as coisas do Recife, diferentemente do ‘Verd’água’, que é bem atemporal. Claro que ‘Astrolábio’ acaba conservando as minhas características essenciais enquanto intérprete, mas ele abarca determinadas referências que o anterior não contemplou”, afirma.
1. Monocultura Alex S.
2. O Amor é velho e menina Tom Zé
3. Megazen Lula Queiroga/Felipe Falcão
4. Casual Marcelo Soares/Paulo Marcondes
5. Pedro Álvares Cabral Carlos Mascarenhas/Carlos Penna Filho
6. Festa da Lavadeira Alex S.
7. Manhã de carnaval Luiz Bonfá/Antônio Maria
8. Laser José Miguel Wisnik/Ricardo Breim
9. Tudo por acaso Lenine/Dudu Falcão
10. Samba pra minha alma Marcelo Soares/Izabela Domingues
11. Mestiçagem Antônio Nóbrega/Wilson Freire
12. Sem vergonha João Falcão/Adriana Falcão
13. Canto final Aristides Guimarães/Joaquim Caetano
Produzido por: Marcelo Soares, Igor Medeiros e Geraldo Maia, exceto faixas 8, 11, 12, 13
Direção Musical e Repertório: Marcelo Soares, Geraldo Maia e Igor Medeiros
Produção Executiva: Filomena Maia
Gravado no Estúdio MUZAK, por André Oliveira, entre janeiro e abril/2001
Mixado no Estúdio MUZAK por Tovinho
Assistente de Mixagem: André Oliveira
Masterizado no Classic Master SP por Carlos Freitas
Assistente de Masterização: Jade Pereira
Programação Visual: Paula Valadares
Designers Assistentes: Maya Melo e Adriana Marinho
Fotos: Teresa Maia