Neste ano em que muitas vozes fazem coro para homenagear o centenário de nascimento de Noel Rosa e Adoniran Barbosa, a voz de Geraldo Maia soa para garantir que outra página da música brasileira, chamada Manezinho Araújo, não passe em branco no meio musical.
O cantor, que já se debruçou sobre a memória da canção pernambucana em seu belo álbum "Samba de São João" (2007), no qual canta de forma definitiva, entre outras preciosidades, Sôdade de Pernambuco, apresenta-nos agora, acompanhado de dois grandes jovens músicos, Vinícius e Lucas, a sua homenagem ao "rei da embolada". Homenagem essa que tem a propriedade de lembrar que a herança musical de Manezinho, artista de múltiplos talentos e habilidades, não é feita apenas de saborosos cocos e astutas emboladas.
Neste ano que finda, Ladrão de purezas é um presente que chega a tempo de nos redimir e de celebrar o centenário de nascimento do autor - sem querer fazer jogo de palavras e já o fazendo de Cuma é o nome dele?
Com a coragem e a determinação que sei terem sido necessárias para a finalização deste projeto, Geraldo Maia faz justiça à memória do cantor e compositor pernambucano e, com a sensibilidade que caracteriza seu dom, livra o nome de Manuel Pereira de Araújo do esquecimento que ele mesmo chegou a lamentar.
Eduardo Montagnari Araraquara/SP, outubro de 2010
Em tempo: agradeço ao amigo Geraldo o privilégio de ter participado deste registro histórico.
O pernambucano Manoel Pereira de Araújo, ou Manezinho Araújo, entre os anos 30 e 50, foi um dos personagens mais populares e influentes do Brasil. Só tem uma idéia exata da importância de Manezinho quem viveu no seu tempo. No entanto, no auge, em 1954, ele abandonou a carreira de artista do rádio, abriu um dos restaurantes de melhor frequência da então capital federal, o Cabeça Chata, no Leme, e trocou a música pelas artes plásticas. Foi um elogiado pintor naïf.
Em Pernambuco, o centenário de nascimento de Manezinho Araújo
(1910 – 1993) passou despercebido. Nas raras vezes em que se cita o nome dele, é quase inevitável que se acrescente o epíteto "Rei da embolada". Mas sua obra vai além da embolada. Abrangia sambas, cocos, frevos, baiões.
Este é um dos méritos do disco Ladrão de Purezas, com o qual Geraldo Maia o homenageia e dá um tapa de luva de pelica na memória cultural pernambucana, e mostra que Manezinho Araújo foi muito além de clássicos como o Carrité do Coroné, ou Cuma é o nome dele?
Ouvindo este disco custa acreditar que foi costurado com tanta rapidez, e cerzido com tanta maestria. Geraldo e sua voz suave, afinada, de ginga sutil, o violão, com todo respeito, monstruoso, de Vinicius Sarmento, que tem 18 anos de idade e 100 anos de instrumento, a percussão precisa e a voz segura de Lucas dos Prazeres e a participação especial do paulista Eduardo Montagnari. Dois dias de gravação, tudo feito na chincha, ao vivo, aqui e agora. O mínimo de efeitos. Um feito.
O repertório joga uma nova luz sobre a obra de Manezinho e dá cara nova a composições conhecidas como Adeus Pernambuco (parceria com Hervé Cordovil), uma toada de 1952 que recebeu um arranjo primoroso do violão de Vinícius. Beata mocinha (parceria com Zé Renato), de 1952, recebe uma interpretação pungente, transformando-a em um quase bendito, impregnado de lirismo. E se a palavra resgate merece ser usada é na obscura Seu Dureza da Rocha Pedreira.
Por essas e outras é lamentável que se tenha esquecido Manezinho Araújo tão rapidamente, e muito mais lamentável o esquecimento que lhe foi dado em sua terra natal. Lamentável porque Manezinho nunca esqueceu suas origens. Pernambuco é uma constante em suas letras.
E este esquecimento engrandece ainda mais este trabalho de Geraldo Maia, que duma só tacada destaca o centenário do artista, e celebra uma obra plural, que em nada fica a dever a outros compositores mais festejados de sua época.
José Teles Jornalista
1. Vatapá Manezinho Araújo
2. Juntou a fome Manezinho Araújo
3. Não sei o que é que faça Manezinho Araújo
4. Adeus Pernambuco Hervê Cordovil e Manezinho Araújo
5. Mulhé rendera Folclore pernambucano, adaptaçao Manezinho Araújo
6. Beata Mocinha Manezinho Araújo
7. Novo amanhecer Manezinho Araújo
8. Nana Roxa Manezinho Araújo e João Frazão
9. Seu Dureza da Rocha Pedreira Manezinho Araújo
10. Quando a rima me fartá Manezinho Araújo
11. Seu Mané é um homem Manezinho Araújo
12. Jogado fora Aldacir Louro, David Raw e Manezinho Araújo
Produzido e Arranjado por Geraldo Maia, Vinícius Sarmento e Lucas dos Prazeres
Pesquisa e seleção de repertório: Geraldo Maia
Gravado, mixado e masterizado no Estúdio Carranca
Gravado por Júnior Evangelista e Bruno Lins entre outubro e novembro de 2010
Atendimento do Estúdio: Sandro Lins
Auxiliares de Estúdio: Neto e Jorge
Mixado por Júnior Evangelista
Masterizado por Carlinhos Borges
Produção executiva: Filomena Maia
Revisão textual: Roberta Maia
Quadros que ilustram o cd: Manezinho Araújo
Fotografias de Geraldo, Vinícius e Lucas: Paulo Carvalho
Reproduções de quadros e fotos de Manezinho cedidos por Aline Rezende
Editoração de imagens e finalização: Robson Lemos
Projeto gráfico: Tânia Avanzi